![]() |
|||||||||||
|
|||||||||||
Perdigueiro Português O Perdigueiro Português é, por excelência, um cão precoce e versátil: Caça com igual entusiasmo todas as espécies venatórias, mesmo o coelho e a lebre. Neste aspecto há uma particularidade que o distingue dos demais: -caça por índole, por vocação natural, e não por especialização em que, à medida que se vão firmando nesse género de caça, se vão estragando como cão de parar. Amarra com extrema segurança, nas poses mais variadas e elegantes, não receando confronto com qualquer que seja. Bate o terreno com alegre e rápida movimentação, procurando a caça a ventos. Parece conhecer o ditado “Quem porfia mata caça” tão persistente e voluntarioso ele é. Essa persistência, aliada à sua versatilidade, fazem dele o cão ideal para todo o tipo de terreno, em especial para o mais sujo e acidentado. Minimamente exercitado e quando bem alimentado, sem esquecer levar-lhe água, aguenta todo o dia, de manhã à noite, nas condições mais adversas, em constante ritmo de trabalho, sem qualquer quebra de rendimento real ou aparente. Traz bem à mão e na recuperação das peças de caça é excelente. Essa faculdade, demonstrativa da sua potência olfactiva, é-nos logo posta em clara evidência, a partir dos dois meses, nos exercícios de procurar e trazer à mão, indo detectar os objectos, a distâncias incríveis, nos sítios mais ocultos e inacessíveis. Deve ser ensinado com meses e não com anos. Quando ensinado muito tarde ou posto na “prateleira” por abundância de efectivos ou negligência do dono, perde qualidades. Tenho-os observado aos três e quatro anos, não valendo metade do que valiam aos sete, oito e nove meses. Ao despertar nele o instinto de caça, consoante a idade e natureza de treinos, evidencia logo o seu estilo de busca: “rápida e larga” – O galope; ou “lenta e curta” – O trote-, cada uma das quais com os seus acérrimos e intransigentes defensores, convictos de que essa, e não a outra é que é a busca ou andamento característico do Perdigueiro português. Para desmistificar a questão, e considerando que o cão é um ser condicionado e limitado, como todos os animais que têm um dono, direi que a sua busca, a “trote” ou “galope” dependerá mais do seu senhor do que dele próprio, isto é: Alguém conseguirá imaginar um Perdigueiro Português, pouco exercitado e, por conseguinte, com fraca paixão pela caça, naturalmente atrofiado fisicamente, a galopar quilómetros e quilómetros, para a esquerda e para a direita, subindo e descendo declives? Eu não. Alguém conseguirá imaginar um Perdigueiro Português, bem exercitado, com grande paixão pela caça, de compleição atlética pelo treino e pelo trato, à frente do nariz do caçador, a abanar o rabito, levantando os gafanhotos e as borboletas? Eu não. No meio não fica a virtude. Vicissitudes de percurso: Com o intuito, muito louvável, de uniformizar a raça e de evitar o seu abastardamento pelos cruzamentos mais inimagináveis, em que somos férteis, e que a amálgama de cores e de tons camuflava e não deixava transparecer, o Clube Português de Canicultura reduziu-os a uma só roupagem, a actual, eliminando, sem dó nem piedade, todas as restantes. Daqui até à consanguinidade foi um passo, e com ela o caminho aberto para as inevitáveis consequências: olhos esgazeados, prognatismo, grande mortandade nos recém nascidos, corpos pequenos, tendência para a esterilidade, embotamento nasal, etc, etc. Embora casos pontuais aqui e ali, e não generalizados, o facto criou nos seus adeptos e utilizadores alguma frustração, e até mesmo inconformismo e revolta por parte daqueles que não concordavam com a medida. Além disso, também não faltaram os crónicos lançadores de farpas, ontem como hoje, sempre prontos a denegri-lo e a sacrificá-lo em benefício de outras raças que nada dizem ao nosso orgulho e ao nosso património. Demorou alguns anos a diversificar as suas linhas, alicerçadas num trabalho paciente e persistente de cruzamentos criteriosos. E assim, graças ao empenho e brio daqueles que nunca desistiram nem cruzaram os braços, com destaque muito especial para a Associação do Perdigueiro Português, o seu vasto e forte potencial foi totalmente recuperado. E a prova disso é que, desde então, não só tem vindo, progressivamente, a expandir-se, como cão de caça, tanto em Portugal como no estrangeiro, em inúmeros Países, como também se tem vindo a afirmar, de forma clara e objectiva, na alta competição, tanto em provas nacionais como internacionais. Como exemplo, de entre os mais participativos neste domínio, com a obtenção do C.A.C. e C.A.C.I.T., cito : Pelé, do Dr. Jorge Rodrigues; Omar de Tagus, do Dr. Carlos Figueira; Cardo do Alto do Sado e Urze do Alto do Sado, do Dr. Arménio Lança; Alegria de Albergaria, do Dr. Paula Bessa; Cigarra e Lino de Torres, do Sr. Vitor Maurício; Best do Choupal, Gândola do choupal, Rina e Jackpot, Maia do Monte do Rei, todos eles propriedade do Eng. Luís Carlos da Fonseca: -A par do Best e da Gândula que têm marcado posição de relevo, a Rina, foi considerada a melhor cadela de provas, mas retirada da competição devido a um grave atropelamento. O Jackpot, campeão do mundo por equipas no campeonato do mundo de Santo Huberto, em 1995. E, mais recentemente, em finais de 2003, no último campeonato do mundo de caça prática em Toledo, Espanha, a Maia, filha do Best, vice campeã do mundo, título sublinhado com aplausos e elogios dos próprios concorrentes estrangeiros, a mais alta qualificação jamais conseguida por um exemplar da Selecção Portuguesa. Saibamos nós merece-lo e preservá-lo não esquecendo nunca que ninguém é dono da raça, nem tem o monopólio da qualidade, mas apenas dono dos meros exemplares de que cada um é possuidor ou criador, tantas vezes com notória e confrangedora falta de qualidade física e venatória, e que, para os valorizarmos a eles e nos promovermos a nós, não é usando a pelintrice snob e barata, tão frequente, de inventar e insinuar defeitos ao património daqueles que trabalham, se dedicam com paixão e sacrifício, e que realmente sabem alguma coisa do ofício. Seia, Abril de 2004
|
|||||||||||